Fora da China, as fachadas midiáticas geralmente aparecem como elementos individuais competindo por atenção. Na China, entretanto, é possível encontrar grandes grupos de fachadas com uma mensagem comum em várias áreas metropolitanas. Essas fachadas mesclam visualmente muitos arranha-céus em uma única entidade panorâmica. Mas quais são as razões pelas quais esse fenômeno é exclusivo da China? E como isso começou? A Media Architecture Biennale uniu cultura e política para fornecer uma resposta ao surgimento das paisagens midiáticas na China.
Com o crescente desejo da China em se apresentar como um ator importante na comunidade internacional, o governo tem buscado um palco representativo para receber convidados em importantes eventos. Desta forma, os espetáculos panorâmicos aparecem como a plataforma perfeita para transmitir a identidade cultural e liderança tecnológica enviando esta mensagem para a mídia mundial. A introdução de espetáculos de luz, por exemplo, para a cúpula do G20 em Hangzhou em 2016, a cúpula do BRICS em Xiamen em 2017 ou o 40º aniversário de Shenzhen em 2018, enfatizam claramente a ambição política. Em Shenzhen, os mais de 40 edifícios conectados criaram um colorido panorama dinâmico da gloriosa história da cidade nas últimas décadas, incluindo paisagens e inovações técnicas.
Conceitos filosóficos como confucionismo e Yin e Yang levaram a noções de harmonia e equilíbrio no desenho urbano. Mais adiante, Christopher C.M. Lee, em seu livro "Common Frameworks: Rethinking the Developmental City in China", propõe considerar a cidade chinesa como um monumento em sua totalidade. A China moderna, entretanto, adotou a grande escala e o conceito de quantidades máximas no desenvolvimento urbano. As novas fachadas panorâmicas midiáticas parecem combinar o conceito tradicional de entidade com grande escala e alta tecnologia para o entretenimento noturno luminoso.
A combinação de um panorama com uma variedade de sinais e movimentos pode ser vista em pinturas de paisagens chinesas tradicionais, como a obra-prima de Wang Ximeng "A Thousand Li of Rivers and Mountains", quando o pergaminho é desenrolado na horizontal. Porém, as formas e os textos nos shows de luzes urbanos contemporâneos são mais expressivos do que nas pinturas históricas.
Do ponto de vista técnico, é perceptível que o antigo papel de liderança das grandes instalações de luz para entretenimento nos Estados Unidos está diminuindo. Nova York, com seus outdoors na Times Square e Las Vegas, com sua tela/cobertura luminosa nos cassinos na Freemont Street alcançaram status de ícone. No entanto, com arranha-céus inteligentes conectados, a China parece dominar o terreno dos grandes experimentos urbanos noturnos de alta tecnologia. O país também mostra grande interesse por uma imagem unificada, em vez de uma pluralidade de temas menores. Comparar essas imagens noturnas parece incorporar duas atitudes políticas opostas: a encenação capitalista individual versus uma história de relações públicas unificada conduzida pela organização rígida do Partido Comunista Chinês.
A narrativa das animações de fachada é de tipo complexo. Sequências de vídeos com natureza, arquitetura, pessoas, texto e som simbolizam um futuro otimista nas megacidades. Desta forma, dois mundos estruturalmente distantes são fundidos: a urbanização com arranha-céus de alta tecnologia contrastam fortemente com a visualização de paisagens românticas e intocadas que a indústria da construção afastou. Além de sua relevância política, os shows de luzes também têm uma importância para o turismo como um catalisador da economia noturna. As considerações econômicas não devem esquecer os custos de investimento, com grandes espetáculos custando, às vezes, em torno de 100 milhões de dólares - possivelmente um desafio para um estado com crescente desigualdade social. Além disso, alguns ambientalistas e designers de iluminação dizem que o brilho dos espetáculos chineses está fora de controle. O governo chinês está ciente dos efeitos negativos da iluminação e emitiu um aviso contra as extravagantes instalações de iluminação paisagística em 2020. Isso levou a uma avaliação cautelosa de novos projetos de fachada midiáticas em grande escala na China.
Este desenvolvimento cultural e político único na China gerou uma situação em que o governo recebeu o poder de controlar o projeto urbano noturno em termos de shows de luzes. Os pesados investimentos, planejamento estratégico e ambição política demonstram que a China considera essa forma urbana de interface midiática uma importante ferramenta. Ao abrir uma janela brilhante e colorida para o mundo, a China tenta comunicar sua identidade nacional e liderança em tecnologia de forma discreta, mas eficaz, dentro do país e para um público global.
Para mais leituras:
Thomas, TS, Schielke and Lin, LM, Ma. 2021. Media scapes in China: The empire of figures transforms into connected media facades. In Media Architecture Biennale 20 (MAB20), June 28–July 02, 2021, Amsterdam and Utrecht, Netherlands. ACM, New York, NY, USA, 6 pages. https://doi.org/10.1145/ 3469410.3469436
Light matters é uma coluna sobre luz e espaço, escrita pelo Dr. Thomas Schielke. Morando na Alemanha, ele é fascinado por iluminação arquitetônica e trabalha como editor na empresa de iluminação ERCO. Publicou inúmeros artigos e foi coautor dos livros “Light Perspectives” e “SuperLux”. Para mais informações visite www.erco.com, www.arclighting.de ou siga-o @arcspaces.